Nietzsche: civilização e cultura, Carlos A. R. de Moura, Martins Fontes, 2005, p. 22, 23.
"Qual é o rosto do "espírito livre", este inimigo confesso das convicções e das certezas?
Nietzsche o descreve em Humano, demasiado humano. O espírito livre é alguém dedicado ao conhecimento, que desdenha a veneração das massas e atravessa o mundo de forma tão silenciosa quanto dele sai. Sendo "inatual", o espírito livre não tem amarras com a "opinião pública". Seu oposto imediato, o homem de convicções, é aquele que crê estar em posse de verdades definitivas e, por isso mesmo, tem por postulado não poder ser refutado. O espírito livre, ao contrário, nunca fixa opiniões em convicções: ele impede essa fixação por constantes variações e só terá ao seu dispor probabilidades exatamente mensuradas. Assim descrito, o espírito livre é, antes de tudo, um experimentador. Nietzsche o opõe ao espírito servo. As cadeias as mais fortes que o espírito deve romper para libertar-se são as cadeias dos deveres, quer dizer, o respeito aos valores antigos e venerados. O espírito livre vai designando, assim, uma vontade de autonomia na determinação de si mesmo e de seus próprios valores, uma "vontade de vontade livre". Agora o espírito livre torna-se um experimentador curioso em face dos frutos proibidos: ele se interrogará então se não podemos inverter todos os valores: se o bem não seria o mal; se Deus não seria uma invenção; se não pode ocorrer que tudo seja falso. Sua liberdade de espírito deverá abrir-lhe a via para maneiras de pensar múltiplas e opostas, o que lhe dará o privilégio de viver a título de experiência".
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
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